A Vida Interior de São João

A Vida Interior de São João Evangelista

O Evangelho de São João é conhecido como o evangelho da ‘vida interior’ e, de fato, é o mais místico dos escritos do Novo Testamento. Qual o caminho percorrido pelo discípulo a que Jesus ama para chegar a este nível de elevação espiritual encontrada em seus escritos? Com certeza São João chegou a um alto grau de santidade. O que podemos aprender com a vida interior de São João?

Segundo Bossuet, São João é representante de uma classe de almas prediletas de Jesus. Estas almas recebem três grandes privilégios ou graças de Nosso Senhor.

1º Privilégio da Vida Interior de São João

O Evangelho conta que na última ceia, na sala do cenáculo, onde Jesus instituiu a Eucaristia, o discípulo amado teve o privilégio de ser, talvez, o 3º devoto do Sagrado Coração de Jesus. Eu digo o 3º porque, com certeza, a Virgem Maria e seu castíssimo esposo foram os primeiros a ouvir as batidas do coração do Verbo Encarnado quando ele ainda era apenas um bebê. José e Maria são, portanto, os maiores devotos do Sagrado Coração. Contudo, São João é conhecido como o ‘apóstolo do sagrado coração de Jesus’. Conforme nos relata o evangelho, São João também recebeu essa graça sublime, assim diz o texto:

“Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus.

Então Simão Pedro fez sinal a este, para que perguntasse quem era aquele de quem ele falava.

E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é?”(João, 13-23 ss)

A aparição de São João a Santa Gertrudes

No século XIII, Jesus e São João apareceram para Santa Gertrudes. Durante essa visão, Jesus convidou a santa a reclinar a cabeça sobre seu peito, e ela perguntou a São João:
“Amado do Senhor, será que estes batimentos harmoniosos do coração que alegram a minha alma também alegraram a tua, quando descansaste durante a Última Ceia no seio do Salvador? 

João lhe respondeu:

“Sim, eu ouvi as batidas, e a sua doçura penetrou minha alma até o seu interior”.

Santa Gertrudes perguntou:

“Então, por que falaste tão pouco no teu evangelho dos segredos amorosos do Coração de Jesus?” Ele respondeu:

“A minha missão era escrever sobre o Verbo Encarnado…, mas a mensagem dos maravilhosos batimentos do Sagrado Coração está reservada para os últimos tempos, para que o mundo gasto pelo tempo, arrefecido do amor de Deus, possa ser aquecido ao ouvir tais mistérios”.

Ao ter contato com a parte mais íntima de Jesus, o coração, São João foi inflamado de amor a Deus a ponto de dizer: “Deus é amor”.

2º Privilégio da Vida Interior de São João

Nosso Senhor dá uma segunda grande graça a seu discípulo amado. São João na hora derradeira recebe a mãe de Jesus. “Mulher, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua mãe” (Jo 19,1). A partir daquela hora João a levou para a sua casa. 

Ao entender que Jesus usa a palavra Mulher ao se referir a Mãe, como a nova Eva, a nova mãe da humanidade e que essa nova humanidade é restaurada ou resgatada da perdição através da obediência da Virgem Maria, nós conseguimos entender o ato divino e providencial do Cristo. Em São João o Cristo está entregando todos os filhos e filhas da Igreja aos cuidados de Maria Santíssima. Como é belo pensar que a 1ª consagração a Nossa Senhora aconteceu ali no Calvário e o autor da consagração foi o próprio Cristo. 

A vida interior de São João é um chamado a o imitarmos em sua devoção a Nossa Senhora. É santo e agradável a Deus, honrarmos a sua mãe e sermos seus verdadeiros devotos pela imitação de suas virtudes. 

Se Dionísio, o Areopagita, após estar com Nossa Senhora ficou impressionado com seus encantos celestiais. Quão grande não foi o privilégio joanino de estar em intimidade com a Virgem. Com toda certeza, o contato íntimo com Nossa Senhora teve forte influência na grande santidade de São João. 

3º Privilégio da Vida Interior de São João

A tradição conta que São João sofreu um tipo diferente de martírio em comparação com os outros apóstolos. Ele não foi esfolado como São Bartolomeu ou crucificado como Pedro e André. A Cruz de São João foi mais incruenta. Foi a cruz que exige uma longa paciência. É dito que os grandes santos sofrem no desejo de se unirem em definitivo com o Cristo. O fato dele, entre os apóstolos, ter sido o mais longevo e morrer em idade avançada já deve ter sido causa de sofrimento. O discípulo amado deve ter sofrido o mesmo que o apóstolo Paulo quando disse: “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”. 

Em sua vida interior o 3º privilégio foi o de presenciar a crucificação do Verbo Encarnado. O acontecimento do calvário foi a primeira e única missa que se perpetua em nossos altares. O poder santificador da cruz e da santa missa são insuperáveis. Como bem disse São João da Cruz:

“O Calvário é a montanha dos que amam”. 

Ali no calvário estava São João representando cada um de nós que seguimos a Cristo. O Calvário não deixou dúvidas no coração de São João. O Cristo disso que não há amor maior que dar a vida pelos amigos e foi exatamente isto que Ele fez. A meditação na paixão de Cristo é um meio muito fecundo para abrasar os corações no amor a Deus. 

A Vida Interior de São João pode ser a nossa

A vida interior de São João pode ser a nossa. Se o nosso coração estiver duro e insensível ao amor de Deus, é preciso nos lembrarmos sempre disso: O discípulo amado sou eu e você. Cristo nos deu o Coração, a Mãe e a Cruz. Estes podem ser nossos privilégios, pois Jesus não nos negará os seus dons se pedirmos com humildade, confiança e perseverança. Deixemos a nossa insensibilidade e rezemos com Santo Afonso de Ligório:

“Roubador dos corações, a força de vosso amor estraçalhou nossos corações tão duros. Inflamastes todo o mundo em vosso amor. Senhor da sabedoria, inebriai nossos corações com esse vinho, abrasai-os com esse fogo, feri-os com essa flecha de vosso amor. Vossa cruz é arco e flecha que ferem os corações. Saiba todo o mundo que tenho o coração ferido!

Ó grande Amor, o que fizestes? Vieste para curar e me feristes? Vieste para me ensinar a viver e me tornastes semelhante a um louco? Ó Sábia Loucura, não viva eu mais sem vós! Senhor, quando vos vejo na cruz, tudo me convida a amar: o madeiro, vossa pessoa, as feridas de vosso corpo e principalmente o vosso amor. Tudo me convida a vos amar e não me esquecer de vós”.

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